quarta-feira, outubro 31, 2007

Que absurdo

Hoje mesmo que quisesse, falar de côr não conseguia…
Hoje só consigo falar descolorido…

É a lembrança do 11 de Março em Madrid…
É pensar no 11 de Setembro…
É ter consciência de todos os actos terroristas que já não tem data…
É ser sobrevivente…

É a lembrança das armas de destruição massiça
É a lembrança das invasões do “Bem” contra o “Mal”
É a lembrança da potência das potências militares
É ser subserviente…

Depois tentar perceber as razões…se é que existe razão
da guerra por causa terrorismo…do terrorismo por causa da guerra…

Depois tentar perceber a motivação…se é que existem motivos
do poder de quem vence…do poder de destruir o vencedor


…e pensar que isto tudo é por causa de “não-causas” …
…do petróleo por exemplo.

…que absurdo.


terça-feira, outubro 30, 2007

Mudar

Será que quando escrevo estas Gotas d’Àgua, escrevo a pensar em quem lê…
ou a pensar em quem escreve…
Será que as Gotas aqui mostradas, são o vácuo interior…
ou será que são só o aspecto que elas tem por fora…


Quando nos vestimos bem…vestimos para o nosso olhar…
ou para os olhos dos outros…
Aquilo que dizemos é o que nos passa pela cabeça…
ou é para a cabeça dos outros…
e as mentiras que dizemos…estamos a enganar-nos…
ou queremos imprressionar os outros…


Já me sugeriram muitas vezes para mudar este blog…
…mudar a cor…alterar as músicas…fazer textos mais alegres…ser mais assim ou mais assado…

Pensando bem...

…já me pediram tantas vezes para eu mudar.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Tempo para esquecer

Já é quase Novembro e ainda há um sol bom que nos aquece…
Sabe bem…faz-nos bem…
faz-nos fazer mais maluquices…

Normalmente nesta altura já está mais frio…
e o frio é mais desconfortável
faz-nos sentir menos bem…
ficamos mais cinzentos…
mais longe do sol…

Mas se pensarmos bem
há algo de desconfortável que este calor nos traz…
há uma preocupação bem lá no nosso fundo…
Falam-nos de aquecimento global…
…e isso às vezes já não nos faz sentir tão bem.

…mas é só ás vezes…
…são maluquices de tempo quente...


sábado, outubro 27, 2007

Sonhos

Como são frágeis os nossos sonhos,
Como é fino o papel que os embrulha…

Como são resistentes os nossos pesadelos,
Como são resistentes as caixas que os guardam…

Os sonhos bons, deixam-nos dormir mais tempo…mas quando acordamos rasgam-se depressa…
Os pesadelos acordam-nos depressa…de sobressalto…mas levam mais tempo a desaparecer…


…e há outros sonhos,
… são os sonhos que temos acordados…esses só desaparecem com os anos.
Uns desaparecem quando os concretizamos, são sonhos realizáveis…
Outros desaparecem com o tempo, são os irrealizáveis…


Normalmente a realidade faz desaparecer todos os sonhos…
mas os sonhos nunca existiriam sem a noção da realidade.



sexta-feira, outubro 26, 2007

Janela

Um tribunal sentenciou a eliminação de uma série de janelas e varandas a um prédio no Porto. Estas invadem, há dezassete anos, o terreno vizinho onde se encontra um armazém térreo.

Na televisão, vi um homem contar que andou uma vida inteira a trabalhar para criar os filhos, dar-lhe uma educação, e juntar dinheiro para comprar um T1 naquele prédio. É um pequeno apartamento só para ele e para a mulher e serve perfeitamente para acabarem as suas vidas de uma forma tranquila.

Mas agora, já velhos e doentes, vão ficar sem a janela que o seu apartamento tem.


Vão demolir a varanda e tirar-lhes a janela…a única janela…
Vão tirar-lhes a vista…
Vão tirar-lhes o sol…
Vão tirar-lhes o ar…
Vão apagá-los…

Quantas vezes somos alheios às coisas que nos tiram a vista…que nos cegam…
Quantas coisas a que somos alheios de repente escurecem a nossa vida…
Tiram-nos o ar…
Asfixiam-nos
Apaga-nos…

…e quantas coisas destas nos dão uma raiva incontrolável...
…um desejo de pegar num martelo e desatar a partir…

…partir, partir, partir…

…e abrir de novo a janela.




quarta-feira, outubro 24, 2007

Momento diferente

Há tantas coisas na nossa vida, que se acontecessem num momento diferente,
tinham feito tanta diferença…

Há momentos que aconteceram na nossa vida que se tivessem chegado mais cedo, ou se tivessem chegado atrasados, nós estaríamos provavelmente num sitio completamente diferente deste, rodeados de pessoas completamente diferentes destas, e seríamos pessoas completamente diferentes, de nós…

essa diferença pode ter sido tão pequena, que é estranho pensar no efeito que provocou…
essa diferença pode ter sido tão subtil que passou despercebida…

quantos semáforos atrasaram ou adiantaram um encontro ou um desencontro…
quantos desencontros ou encontros mudaram uma decisão
quantos minutos fizeram-nos ver aquilo que não queríamos saber…
quantos segundos nos levaram a dizer sim em vez de não…

quantas vezes entrámos, momentos antes da porta se fechar…
quantas vezes ficámos fechados, porque chegámos depois…
quantas vezes o telefone tocou e não chegámos a tempo…
quantas vezes desistimos cedo de mais…

Mas se tanta circunstância modificou tanta coisa…
será que apenas somos uma soma de momentos?...uma soma dos acasos?...ou das coincidências?..

… que pessoas é que seríamos?...
…se tivéssemos nascido mais atrasados…ou mais adiantados…?


segunda-feira, outubro 22, 2007

Maneiras de ver

A nossa maneira de ver…
Tão diferente da nossa maneira de sentir…

Cada um de nós tem uma maneira de ver…
própria e independente.
Ver, é a nossa maneira de olhar…única e fundamentada…
mas independente da nossa maneira de sentir…

Uma maneira de ver… é sempre diferente de uma maneira de sentir.
as mesmas coisas vistas por nós, não são as mesmas coisas quando são sentidas por nós.

Ver é racional…é lógica…é padrão…é tudo bem focado…
Ver é o estipulado… o estipulado por nós, sob influência dos outros…

Sentir…é pôr tudo do avesso…é ir contra as regras…é borrifar para os padrões…
Sentir é desobediência…a desobediência aos outros por imperativo nosso…

E também é o ridículo…
Sentir, é ridiculamente bom…
Sentir é pele…é toque…é apertado…
Sentir é não fazer sentido…é absurdo…
é sobretudo fechar os olhos…é sobretudo deixar de ver…

E por mais que a gente tente, não há maneira de ver… a nossa maneira de sentir.



domingo, outubro 21, 2007

A estranha viagem

A vida é uma viagem de comboio…
O nosso primeiro grito confundiu-se com o apito do chefe de estação...
O nosso primeiro passo foi arrancado ao som do vapor…
A nossa vida foi toda percorrida em cima de carris…
de estação em estação, em direcção a um destino, que não sabemos qual é.


Para estarmos aqui, é porque já viajámos muitos quilómetros…
Mudámos muitas vezes de carruagem…

Cruzámo-nos com muita gente…
conhecemos muitos estranhos…
e fomos estranhos para muitas mais…
Conhecemos muitos desconhecidos…
confundimo-los com conhecidos…
e, confundiram-nos tantas vezes… conhecidos disfarçados de amigos…


Hoje refugiado neste compartimento, onde já não se pode fumar,
neste comboio em constante movimento,
com os olhos fixos na janela,
sem saber o nome da próxima estação,

só desejo que a próxima paragem seja bem longe…
o mais afastado daqui possível,
numa paisagem diferente,
onde eu me sinta tranquilamente perdido…

com este comboio á minha espera… na estação local.


sábado, outubro 20, 2007

As palavras dele

Estou sempre a pensar…
será que as palavras que escrevo dizem alguma coisa a alguém…

Estou sempre a pensar …
será que os silêncios que eu faço são ensurdecedores para alguém…


Eu sei que há palavras de outros que me dizem muito…
Há silêncios de outros que são ecos dentro de mim…



António Lobo Antunes in Visão 18 de Outubro 2007

“Este final de Setembro, o mês dos meus anos, tem-me custado. Perguntas sobre perguntas acerca de mim mesmo e a angústia do sentido da vida e da forma como me relaciono com ela. O que posso fazer, o que devo fazer? Há um livro a sair agora, trabalho noutro: e depois? Que significa isso para mim? Os meus defeitos aparecem-me de forma muito clara e dolorosa. Não só os meus defeitos: as minhas insuficiências, os meus erros.”
“Vou-me olhando de forma cada vez mais distanciada e sem indulgência. A impressão, melhor: a certeza de haver falhado. O quê? Não estou deprimido, não me sobra tempo para depressões, sou apenas um homem, diante do seu espelho interior, que não gosta do que vê. O que poderia ter feito?”



são palavras de Lobo Antunes…
palavras que hoje fazeram eco dentro de mim.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Diva

Lembro-me daquela primeira fila da plateia do Cinema Restauração…
Ainda antes de descobrir a última fila do segundo balcão do Cinema Restauração…

Em ambas as filas apaixonei-me muitas vezes…

Nas de trás apaixonei-me por colegas minhas, vizinhas, irmãs de amigos, primas, desconhecidas…
eram paixões rápidas…tímidas…

Nas da frente encostado ao écranl…
apaixonei-me por Rita Hayworth, Ingrid Bergman, Catherine Deneuve, Jane Fonda, Sofia Loren, Lauren Bacall, Gina Lollobrigida…e…

eram paixões eternas…assumidas…
eram anjos…
eram Divas…

Mas…
…mas tu Marilyn…
especialmente tu…
frágil…desajeitada…
perdida…
linda…
tal como eu te sentia…
eras a minha principal Diva.

Nunca ia para o balcão sempre que havia um filme teu…
não havia um espaço na parede do meu quarto que não tivesse uma imagem tua…
não havia respiração sempre que olhavas para mim…e não havia palavras sempre que sonhava contigo.

Os anos passaram e eu deixei de ir ao Cinema Restauração…
deixei de te ver da primeira fila…
deixei de comprar revistas com posters teus…
esqueci-me de ti…

…até um dia, em que olhei para uma paragem de autocarro… havia uma imagem de alguém que podia ser tu…era de propósito…era um engodo para reavivar a minha paixão por ti…

…só que eu já não acreditava em Divas!!!


quinta-feira, outubro 18, 2007

Pobre de palavras

Dias mundiais...
São os dias sobre, ou os dias de, ou os dias para lembrar…
São dias normalmente sem palavras…

Ontem era suposto ter tido palavras…mas não as encontrei,
Ontem podia falar de pobreza…mas não consegui,

Ontem era suposto ser mais um dia para as consciências terem consciência…
consciência de que nada podem fazer,
a consciência de como somos pobres,

Ontem era suposto…e foi,
foi um dia em que nasceram mais pobres…
foi um dia em que morreram mais pobres…
foi um dia em que nos avisaram que há mais pobres…

Que desconfortável…sem palavras.



terça-feira, outubro 16, 2007

Fome

Dia Mundial da Alimentação,
É por causa da fome?...
Ou é por causa de quem come?

É por causa de quem acredita?
Ou é por causa de quem já há muito deixou de acreditar?

É por causa da sobrevivência, da sub vivência…
Ou da displicência?

É por causa dos que têm?
Ou é por causa dos outros?

E de que alimentação estes falam?
E de que fome eles comem?

Deve ser a fome dos outros?
Outras fomes,

Deve ser de outra alimentação, pois a daquela fome…
já ninguém acredita…




sábado, outubro 13, 2007

A caixa

Quando era criança tinha uma caixa que ocultava de toda a gente…
Era uma pequena caixa e estava escondida no meu quarto…
Descobria-a no dia seguinte a ter sonhado com ela…
Era mágica e por isso era especial…

Como tinha chave, punha lá dentro tudo o que eu achava de mal… de mau…de injusto …
e pensava, que com isso, conseguiria que, aquele mal…aquele mau e aquela injustiça não voltassem a aparecer…

Anos mais tarde, quando tive consciência de que em todos nós também há coisas de mal, más e injustas, já tinha perdido a chave…
Não consegui guardar mais nada lá dentro… não consegui que não voltassem a acontecer…

Hoje estou à espera que a caixa se abra acidentalemnete,
quero poder deitar fora tudo o que lá ficou lá escondido,
e substituir por muitas outras coisas…
…fechá-las a cadeado...e deitar a chave fora.


quinta-feira, outubro 11, 2007

Sou do Cinema

Desculpem-me, mas eu sou do cinema…
As minhas palavras são dos filmes
As minhas cenas são travellings
A minha cor é preto e branco

Eu sou do cinema, da película, do “scope”
O meu plano é grande,
a minha lente é uma angular
a minha percepção é a objectiva
A minha música é banda sonora

Eu sou do cinema, das sessões contínuas,
choro com o desgosto,
tenho raiva com a dor
sinto-me perdido nas paisagens,
fico feliz com a alegria
apaixono-me pelas divas
admiro os heróis

Odeio os intervalos.
…e acabo sempre só…nos fins.

Mas exactamente por ser do cinema,
…não gosto dos que fingem ser dos filmes,
…não gosto dos que inventam filmes para serem fingidores.

…esses não são do cinema…
esse, são só da televisão!



Mãos

As minhas mãos não me mostram o futuro
Estão cheias de caminhos, ruas e estradas,
…mas não tem nenhum sinal de onde eu estou.
…não tem qualquer indicação para onde eu vou,

As minhas mãos, que tantas vezes protegeram-me da luz,
não me iluminam nesta incerteza,
As minhas mãos, que tantas vezes abriram caminhos, no escuro
não me dizem por onde hei-de seguir.

Mas, mesmo assim, sei que as minhas mãos estão aqui,

…conto com elas como resíduos das minhas emoções
…como esconderijo das minhas expressões,
…como lenço dos meus olhos,

…tudo para, um dia destes, amachucar,
… e atirar para o cesto de papéis!



terça-feira, outubro 09, 2007

...one for the road.

Eu hoje apanhei o comboio, e esqueci-me de sair na minha estação…
Fui obrigado a ir até ao fim da linha…e voltar para trás,

Disseram-me hoje que um amigo morreu…
Foi até ao fim da linha, passou a estação dele…e não voltou…

É esta a linha onde o nosso comboio anda…
…tem uma estação lá á frente, onde já não dá para voltar...

One for the road..!



segunda-feira, outubro 08, 2007

Uma coisa bonita

Hoje pediram-me para escrever uma coisa bonita…
…uma coisa mais leve…mais colorida
…menos triste…menos cinzenta…

mas já pensaram…
…o que seria das coisas bonitas sem as feias…
…as coisas leves existem porque há coisas mais pesadas.

As coisas bonitas são alegria, porque as feias foram tristeza…
As coisas bonitas nasceram sempre depois das coisas feias…


Eu percebo…também eu gostava de escrever coisas bonitas

…mas as coisas bonitas, não tem palavras…
…as coisas bonitas não se escrevem…
…as coisas bonitas são indescritíveis…
…as coisas bonitas emudecem-nos...


Hoje pediram-me para ser menos triste…
e recorri ao artista…ao pai da alegria,
fui visitá-lo…
Estava de cinzento, a preto e branco,
Ria-se para fazer rir…
Sem palavras…
Portanto uma coisa bonita

…suspeito que ele sabia fazer coisas bonitas porque era triste!



domingo, outubro 07, 2007

Com medo

Obrigaram-nos a nascer com medo…de viver
Obrigaram-nos a dar o primeiro grito com medo…de morrer
Ensinaram-nos a fome com medo…de não comermos
Ensinaram-nos a ficar em pé com medo…de cairmos
Deram-nos a mão para atravessar a rua com medo…dos carros
Impediram-nos de mexer nas tomadas com medo…da electricidade

Puseram-nos a falar com medo…dos silêncios
Puseram-nos a escrever com medo…de sermos lidos
Ensinaram-nos a luz com medo…da escuridão
Inventaram-nos fantasmas com medo…da realidade

Empurraram-nos para a sociedade com medo…de ser rejeitados
Disseram para sermos iguais com medo…das diferenças
Disseram para sermos diferentes com medo…da igualdade
Disseram-nos para sermos os melhores com medo…de perder
Empurraram-nos para o topo com medo…das vertigens
Enganaram-nos com o capitalismo com medo…dos comunismos
Enganaram-nos com o comunismo com medo…dos fundamentalismos

Ensinaram-nos a sermos solidários com medo…do contágio
Ensinaram-nos a dar com medo…de não receber
Ensinaram-nos a roubar com medo…de ser descobertos
Mostraram-nos a pobreza com medo…da nossa riqueza

Empurraram-nos para a guerra com medo…da paz
Ensinaram-nos a ser soldados com medo…da guerra
Deram-nos amores com medo…do amor
Ensinaram-nos a estrada com medo…da distância


Enganaram-nos com a eternidade com medo…da desistência
Arranjaram-nos deuses com medo…de não ter medos
Obrigaram-nos a ter medo com medo…dos deuses
Fomos ateus com medo…de acreditar
Ensinaram-nos a ter ilusões com medo…das desilusões
Deram-nos paixões com medo…de as perder
Deram-nos alegrias com medo…das lágrimas

Ensinaram-nos a liberdade com medo…das prisões
Ensinaram-nos a história com medo…da desesperança
Deram-nos o passado com medo… do presente
Responsabilizaram-nos pelo presente com medo…do futuro
Deram-nos a aldeia global com medo…de não nos encontrarem
Deram-nos independência com medo…da nossa importância

Deram-nos espaço com medo…da nossa fuga
Deram-nos autoridade com medo…da nossa liberdade
Cortaram-nos os pés com medo…da nossa altura
Obrigaram-nos a viver com medo…de sermos esquecidos



sexta-feira, outubro 05, 2007

Florestas

Cá estamos nós, sentados nesta floresta,
voyeurs solitários,
encadeados pela televisão,

esperando ansiosamente por mais um caso
ou
mais uma luz num caso

mais um caso Maddie
ou
mais uma luz no caso Casa Pia,

mais um caso da Judiciária,
ou
mais uma luz no caso Apito Dourado

mais um caso criado por Santana Lopes
ou
mais uma luz fabricada pelo PSD

mais um jet set feito de papel de jornal,
mais um murro do Scolari e um hino mal cantado,
mais uma parada SIC mais um filho da Serrano,
mais uma tatuagem na Elsa e uma bebedeira do Palma,
mais um assassínio de uma criança, e uma previsão da Maya
mais uma violação de um pai, mais um padre pedófilo


e nós, importantes,
cheios de emoções e opiniões,
de informações privilegiadas
cheios de amigos muito conhecidos
e com as chamadas vigiadas…

e nós, coitados,
com tão pouco tempo,
e com tantas coisas para nos preocupar…

… nesta floresta!

quinta-feira, outubro 04, 2007

Cabos de alta tensão

As notícias dizem que há gente a protestar por aí…
dizem que há cabos de alta tensão a nascerem por cima das suas cabeças…

As notícias lembram que há 50 anos o “sputnik” ia para o céu…
...e há cabos de alta tensão a nascerem por cima das nossas cabeças.

As noticias dizem que,
... por debaixo dos nossos pés estão a nascer mais túneis, …muitos túneis,
...são túneis para comboios, para carros, para metros…
...e são túneis para nós..
…túneis para esconderem as nossas cabeças, …das linhas de alta tensão.


As notícias alertam que no céu há cabos de alta tensão…
Teremos que proteger as nossas crianças,
de preferência nos túneis...nos “bunkers”…nas caves,

…afinal, o princípio foi nas cavernas!


quarta-feira, outubro 03, 2007

Dá-me a mão

Dá-me a mão, ajuda-me a atravessar esta estrada,
Leva-me ao meu passado,
Ajuda-me a descobrir a errata,

Dá-me a mão, e leva-me à terra onde nasci,
Leva-me aos porquês de eu ser assim,
Ajuda-me a apanhar os pedaços dos filmes que lá ficaram

Dá-me a mão e aperta-me com força,
Faz-me sentir que não estou perdido,
…que há uma razão para que esta vida seja assim,

Dá-me as tuas mãos,
e traz-me de volta,
não me deixes lá sozinho,

…Dá-me a tua mão e ajuda-me a atravessar esta estrada!!!





terça-feira, outubro 02, 2007

Olá,

Olá Manel, vamos aos Génesis a Cascais
Olá Jardas pára de chutar a bola mais alta que o céu
Olá Zéza encontramo-nos para a bica no Solar da Ponte?
Olá Teresa, já sabes cantar Janis Joplin à capela
Olá Pedro, Manel e Carlos, há miúdas giras este domingo na missa das 10h
Olá Garcia, já puseste gasolina de avião no teu VW?
Olá Nuno já sabes que músicas vais tocar hoje no Mosaico?
Olá Rebelo tens dinheiro para comprar pelicula?
Olá Carlos vamos até Cacilhas
Olá Agostinho vamos ao 2001
Olá Lisboa ensina-me a jogar basquete
Olá Alfredo que tal uma prainha na Ilha
Olá Zé Maria `vamos ao “kisomba”
Olá Hugo às 9h na praça de Espanha
Olá Zé Nuno, “olha t´andar”
Olá Eduardo uma bifana e uma mini na roulote
Olá Paula não te esqueças do guarda chuva,
Olá Chico, uma para o taipal ?
Olá Pedro, Manel, Beto, António, Quim, Sérgio, Pedro, Paulo, Paula, Maria, Celeste, Cristina,Teresa, Ana, Chico, Zé, Miguel, Zito, Brum, Lisboa, Couceiro, Roberto, Dalila, Luis, Filipe,Domingos, João, Ribeiro, Varela, Carlão,

Liguem aí o Rádio!!!

...lembram-se?...eu lembro-me!



segunda-feira, outubro 01, 2007

Dia Mundial da Música

Hoje lembrei-me do meu primeiro disco...
single...vinil...45 rpm (rotações por minuto)...
…oferta de uma amiga da minha mãe...

Para dizer a verdade, era um disco que não me dizia muito...mas era o meu primeiro disco, e ainda hoje me lembro dele...teve esse mérito de ser, ainda hoje, recordação.

...quantas recordações conseguiram viver tanto tempo...
...quantas recordações já se perderam no tempo...

...e para dizer a verdade, este pequeno disco ainda traz o cheiro do saco de plástico que o embrulhava, para o proteger... dentro da sua capa em cartolina...branca com a foto deles em alto contraste…muito pop.
Traz-me a lembrança do "Pick Up" na sala...um gira discos NEC, estereofónico, com rádio incluído, e com duas pequenas colunas de madeira.
...traz-me a lembrança da roda em plástico a imitar cromado, que tinha de colocar no centro do gira discos, para os discos de 45 rpm...

...traz-me a lembrança de ter que colocar a agulha nas primeiras espiras do disco...
…segurando o braço, que tremia na minha mão...com medo de riscar o disco...
...traz-me a lembrança dessa primeiras espiras que soavam a uma pequena fritura de óleo na frigideira...
... e traz-me a lembrança dos primeiros acordes, antes de se ouvir as primeiras palavras...

Mas este primeiro disco que também traz-me a lembrança de ir à baixa de Luanda, à "Lusolanda" - uma discoteca de vender discos, - para comprar, esse sim, “o meu primeiro disco”,...um disco de minha própria vontade...aquele que seria escolhido por mim.

...lembro-me de entrar nas pequenas cabinas insonorizadas que haviam na Lusolanda, para podermos sossegadamente ouvir os discos que queríamos comprar,..era pôr os auscultadores nos ouvidos, e sonhar...ir comprar um disco chegava a significar uma tarde inteira.

...devo ter escolhido uma das músicas que se ouvia na rádio...devo ter chegado ao bairro e convidado todos os meus amigos para irmos para a minha casa para o ouvir na máxima potência...como sempre o fiz quando os mais velhos não estavam em casa…
…devo ter passado tardes deitado no chão da sala, de olhos fechados a ouvir aquele disco, de um lado, o A, e do outro, B...
…mas, mesmo depois disso, não me lembro que disco era...
...foi um disco que não passou o tempo...não resistiu...
...e este, o primeiro que eu tive de oferta e que não me dizia muita coisa, consegue hoje ser uma recordação...
…uma boa recordação,
…consegue trazer estas coisas todas… até aqui...

...se calhar por ser “Daydream”.