segunda-feira, setembro 29, 2008

Veja-a...



Olho para o outro lado e estou encadeado….
encadeio-me com a folha branca antes de escrever…
encadeio-me com a luz da manhã antes de acordar…
…antes de estore…antes de estar
encadeio-me com o branco…depois de mim…
depois de black…depois de out…depois de estoirar…

Olho para a outra margem…para fora…
encadeio-me com a clarividência…de todos os clarividentes…
encadeio-me com a evidência…depois dos videntes…
…antes de ver…antes de antever…
encadeio-me com o que escrevo…depois de ler…

…e quando olho bem…tenho medo…de luz… vejam bem…
…invejo o escuro…descuro a luminosidade…imaginem bem…
…a certeza e o absurdo da convicção…não chamam…
a obstinação perante o claro…o branco…o iluminado…não me lúmen..

Mas continuo a olhar…
virado para a intensidade da luz…cerrando os olhos…
… entre mim e a realidade… a grade…
malha de arame que a contra luz, encadeia…
mas só brilha à íris aberta…
quando há escuro…sem cor…
não é branco…
não é imaculado…
e não é base para negro.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Veia...



Tenho uma veia que pulsa… pulsa no meu pulso…e vagueia,
impõe-se… anseia…porque é veia…e deseja tudo o que não sei…
que desconheço… …
é mais uma veia minha… que anseia…
pulseia…não sei porquê…
sei que desnorteia-me…

Tenho uma veia que verte agua…molha o papel onde escrevo…suja as minhas palavras…
verteia a agua que herdei…e preservei…
mas borra-me as letras…que desaparecem…
as que não deixarei…porque as molhei…

Se tivesse uma veia de sangue…deixava a marca…
fazia um irmão…uma incisão …que mesmo depois da seca…
podia ser lembrada em forma de cicatriz…marcada…

Tenho uma veia que expulsa a areia com mágoa…
e em África, não posso fazer um pacto…sem sangue
não sei se a veia que pulsa em meu pulso…é de água salgada…
lágrima doce não é…
porque anseia… porque me desnorteia…
e não sei porquê…é seca.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Revolução...?



Como estamos diferentes…
…em pânico…
inseguros…sem seguros
sem bancos…sem lugares de assentar…
para nos segurar…
descréditos…sem acreditar…
a cair…em baixa…
sem cara…nem caro…nem barato…
descaracterizados…
marcados por mercados…que não conhecemos…
selvagens sem selva…
miseráveis…em perda…

Estamos maus…frios…
cinzentos…por dentro…
perdidos…em subidas e descidas…
insensíveis à cor…ao amor…
à loucura…à imaginação…
de fato e coroados de imbecis…natos…

Estamos fodidos…e não pagos…
foi por isto que lutámos…que comprámos…
que nos ajoelhámos…
e tudo pelo preço…que nunca nos lembrámos
foi por isto que fomos inteligentes…brilhantes…
fascinantes…
mas apenas absurdas mentes…

génios da inverdade…
irritantes…arrepiados por Narciso…
e…afinal…
somos feios…
somos ridículos…
vazios…em invólucro de plástico…
pequenos…e em pânico…

…medrosos.

terça-feira, setembro 16, 2008

Oi...



Hoje sei que comi pão…
…brinquei com as migalhas…mil pedaços do que comi…
mil galhas…mil falhas ou mil folhas, de apenas um pedaço…

Hoje reparei que somos feitos de bocados…
…partes do tal pedaço…de um monte…
parecido com o eu.

quarta-feira, setembro 03, 2008

Lume...



Hoje descobri uma vela velha…
antiga… já muito usada… abusada…
queimada…
mas fria…sem fogo…sem chama…
ressequida…
nunca mais reacendida…

Esquecida…por quem foi seu lume…
seu queixume… enquanto ardia…
a pavio…
apagada…longe de quanto valia, ao não ser usada…

Hoje pensei , quanto vale uma pessoa apagada…
depois de usada…
sem a surpresa do antes de acender…
antes de ter brilhado…

Hoje pensei…
de que vale a minha descoberta …
“Uma velha vela que já não vale a pena…”
com o facto de me aperceber que não tenho fósforos.