sábado, dezembro 29, 2007

Balanço...do ano

…e aqui estamos nós com a história do balanço…
…o balanço do ano…

porquê balanço...?
e porquê o balanço do ano…?

se há algum balanço… eu não o sinto…especialmente no fim do ano…

balanço só o senti…
…quando tudo tremeu…
…quando foi a sério…
…na altura…no momento…na crise…
…nas dúvidas…nas incertezas…nas surpresas…
…no incontornável…no inevitável…
…na desconfiança…na traição…
…quando queimou
…quando doeu

mas também balanço…quando ganhámos…
quando cumprimos…
quando vencemos secretamente…
quando olhámos para o lado…e não éramos os únicos…
quando nos compreenderam…
quando compreendemos…

balanços…balanços…

balanço do ano…
…que se sinta…memorável…
…só acontecem na altura…






quinta-feira, dezembro 27, 2007

O fim...ou o final...

já cheira a fim…
e cada fim desgasta-nos um pouco mais …
tentamos disfarçar…
e festejamos o recomeço…
ou disfarçamos o medo…
… de mais um ano vivido…até ao final…

é como esta bebida que tenho na mão…
que consumo lentamente…
sentado neste balcão…
… já sinto o fim dela…
e o que já esvaziei não me encheu…o vazio que sinto…
o vazio que me provocam os fins…

…é mais um ano…
ou é apenas mais um final…

… é um fim que se aproxima…
ou é a nossa maneira de marcar os ciclos de vida…

ou é o motivo para pedir mais um copo…
…cheio…
…para mais um brinde…
…para mais um recomeço…
…para mais uma festa a nós mesmos…

Afinal, é mais uma bebida…
que irá ser bebida lentamente…
…até o copo ficar outra vez vazio…
até ao próximo fim…
ou ao próximo final…

…ou até o bar fechar.


terça-feira, dezembro 25, 2007

Para...por, quê?

É isso…
…parar…
parar de escrever…
parar de dizer…
parar de publicar…

…de falar …
…de olhar…
…de sentir…
…de ouvir…

ou parar de pensar…
... de opinar…
…de fantasiar…
…de dançar…de rir…e rodopiar…

de ser…de parecer…de subverter…
de sob verter…

é isso…
…parar de mentir…
…de fingir…
…de classificar…de se integrar…
…de catalogar…de rótular…

é isso…
…de ser feio…
... de ser contra feito…
... de não ser original…
…de incomodar…de ridicularizar…
…de envergonhar…

…de…

é isso…
…de não acreditar…
…de não precisar de ritualizar…
…de não ser habitual…
…de não ser habitado…mesmo que muito habituado…

é isso…
…de ser ninguém…sendo alguém…
…de conseguir às vezes ser pouco…
mesmo quando fazem pouco…
e sobrar… ser o que já não somos…
e desse muito pouco...
não conseguir parar.



domingo, dezembro 23, 2007

Natal...?

Natal...?
Festas Felizes...?
...época de paz e amor…?

…de fraternidade…de solidariedade…?
…de compreensão?
…..de quê?

Desculpem-me…não resisti...


sábado, dezembro 22, 2007

Rosa selvagem...

Desistir…deixar de existir…
Ou Inventar…uma nova forma…
de continuar…a estar…
sem fugir…
Investindo…Insistindo…
em, não desistir…
Aparecendo…só com a aparência…
sem ciência…
apenas existência…sem existir…
sobre vivência…em vivência…
existindo com insistência…
mas desistindo da inteligência…
por ser assim que a existência…
sobrevive…à desistência…
..que pena… paciência!


sexta-feira, dezembro 21, 2007

Asa ferida...

Será que acreditam?
Será que vos apetece acreditar?

não acreditem...por favor…
isto tem dor…

será que digo?
não me digam para dizer…
só para vos surpreender…

se é verdade ou imaginação…
não…
hoje não…
não sei...
perdi o tempo das certezas…
já não sei a idade da emoção…


só sei que senti…na palma da minha mão…
a ferida de um pássaro, que nasceu da chuva…
órfão de pai..e da noite…
de uma asa desfeita…ou de uma alma perfeita…

não sei se diga…ou se não…
mas há vestígios…por isso tenho razão…

...e é de certeza de um bocado de pássaro magoado…
...há sangue…
não sei se da ferida…ou se da dor…
Não sei...
...se teu ou meu...este arranhão...
de qualquer modo...
sei que é de passarão.

e sei que vais voar…
nem que seja só, a minha imaginação....



quarta-feira, dezembro 19, 2007

Sala de espelhos

Preciso de um espaço…
um pedaço… um bocado…
de preferência em aço…
para esconder…ou proteger…
quem está fraco…ou despedaçado…

Preciso que esteja num sitio…
sem frio…escondido, também
sem mapa…sem ninguém…

forrado a espelhos…
para reflectir…os meus reflexos…
traumas e complexos…

Preciso de me ver…
com os olhos que olho…
e não por outros olhares…

sem me mexer…
sem medo de me conhecer…
sem fugir…sem me esconder…

e quando souber quem sou…
partir os espelhos…
em pedaços…aos bocados…

…voltar ao ponto de partida…
ao ponto de mim…para todos.


segunda-feira, dezembro 17, 2007

A Natureza e o Homem...

A Natureza criou o Homem…
gerou-o á sua semelhança…
um filho, com a mesma natureza da mãe…

Obsessivo, selvagem…
cancerígeno, destruidor….
jogador de roleta russa…

Mas…brilhante, surpreendente…
Mas…feito no ganho, para vitória…
pelo poder, sobre tudo e sobre todos…

Ela criou-o poderoso…
para poder, tanto como ela...
para ser ele, a lutar com ela,…
para se ferirem de tal maneira…

que até tem motivos para o que mais gostam de fazer...
...guerras, catástrofes, extermínio,...trgédias...

ela quer desgastá-lo…antes de morrer…
ele escravizá-la…matando-a aos poucos…

A Natureza e Homem são iguais…
não conseguem viver na perfeição…mas acham-se perfeitos
vivem da inconstância…mas desejam ser felizes…
respiram conflito…mas professam a paz…

e por muito que se expressem...
têm que ter a última palavra…


…qual deles será o último a morrer?



sábado, dezembro 15, 2007

Um abraço,... meu.

Como é fácil distinguir o preto do branco,
A côr branca, tem o branco…
A côr preta, tem o negro…

Mas, como é difícil distinguir o claro do escuro….
O claro é esbranquiçado...
e o escuro distingue-se do preto, porque tem algo de branco…

…e as minhas mãos…
quantas demãos terão elas de preto?
quantas demãos terão eles de branco?

acabei de olhar para mim…
e esqueci que já tive mãos…
acho que perdi-as esta tarde, num abraço…
branco…

Mas tudo que é claro, depois é embaraço…
é como um abraço falado…
é laço…lasso…
dispensa as mãos...porque é contado…
...e a razão é só a expressão…sentida…
e não a mão…
e não o abraço

…e nem admiração…

Por isso não há abraço…não há laço,
como aquele que eu hoje tive na minha mão…

e por favor, não haja mão que o deslasse…
ele é uma parte grande de branco…. na minha escuridão…!



sexta-feira, dezembro 14, 2007

O Cebola...

Hoje lembrei-me de ti, “Cebola”…mas não me lembrei do teu nome…
Hoje percebi se te dissesse o meu nome, também não te lembrarias de mim… e eu, já não me lembro da minha alcunha…

Meu caro amigo,
…amigo?…
….melhor… Meu caro, velho amigo…
…ou ….Meu caro amigo de outros tempos?

sim, já passaram muitos anos…
muitos mesmo…

Se nos encontrássemos hoje, o que seríamos um para o outro?
estranhos?...nem isso…
despercebidos?…talvez…
sem importância para um ou para outro…de certeza.

…no entanto, somos duas pessoas com tantos momentos em comum…
…tão importantes, que já os perdemos…

Mas sabes porque é que me lembrei de ti hoje?
Dei comigo a pensar se alguma vez contaste a alguém as coisas que fazíamos?...

Chegaste a contar a alguém os charros que fumámos, escondidos no teu jardim?
…as vezes que espreitámos a tua irmã e as suas amigas a tomarem banho na tua casa?
…disseste alguma vez aos teus filhos como deitámos fogo ao Toyota do Américo da mercearia?
…alguma vez contaste como roubávamos os carros aos nossos velhos, para sair á noite?
…reconheceste alguma vez como apanhámos a mulher da papelaria com o amante e a chantagens que lhe fizemos…
…que tirávamos as cuecas de mulher do estendal das tuas vizinhas?
…que entrávamos na Casa do Alentejo sem pagar?
…que apanhámos a primeira bebedeira aos 11 anos?

…e já viste, como é consigo me lembrar disto...e não do teu nome…

Mas olha, “Cebola”,
…lembrei-me disto, por aqui neste país, onde vivo, andam todos de acordo, para colocarem câmaras de vídeo vigilância em todo o lado…
…dizem que é para a segurança de todos…e dizem que: quem não deve, não teme…

Agora, “Cebola”
…vê lá tu, uma coisa sem importância como esta, fez-me lembrar das coisas que fizemos…
…mas não consigo lembrar-me da tua cara...



N: Vou fazer 100 cópias desta carta, colocá-la em 100 envelopes e dirigi-las a “Cebola”, com o endereço de 100 países diferentes.
O Remetente dirá, Amigo do Cebola, Luanda Angola 1971.



domingo, dezembro 09, 2007

Estúdio última parte

Venha cá…sente-se aqui.
Isto é brincadeira…não é?…és tu Rodrigues?...Mário?
Não…não sou ninguém conhecido…mas sou alguém que o conhece bem.
O que é que quer de mim…
Conversar…
Sobre o quê?...
Conversar simplesmente. Depois desta ronda você iría dormir em serviço, como costume... e hoje iría ser apanhado, provavelmente despedido. Se eu conseguir distraí-lo aqui, você vai ficar a noite toda acordado.
Como é que você sabe?
Vejo o que é claro e o que é escuro…alguém quer pô-lo na rua…
Não acredito nisso…
Amanhã quando chegar a casa, depois deste turno, vai saber que a sua mulher está grávida… será o seu terceiro filho… como nos programas de televisão é a parte que você tem de brilhar, dar o máximo…tudo por tudo depois do último intervalo……
Não acredito no que me está a acontecer…
Vai ser a última parte do seu programa…esteja atento..
Não estou a perceber nada disto.
Vá lá, sente-se aqui na bancada. Sei que não está a ver nada, mas eu encaminho-o. É televisão e é mentira,mas toda a gente precisa de acreditar…quer melhor ilusão que esta?
Então dê-me as indicações para chegar aí…
Eu acendo-lhe a lanterna… - luz...-
Mesmo assim vejo-o mal…
Não é preciso que olhe para mim. Olhe em frente…sente-se na primeira fila...e assista…comece por fechar os olhos e veja o que acontece….
Que programa é este?...as luzes, os cenários, …pessoas bonitas cheias de glamour…espectadores de fato e gravata…o apresentador de smoking…
E a preto e branco…
E os apresentadores, elegantes, inteligentes, cultos…
Fantasia meu caro…tudo fabricado…eram vedetas, da rádio e da televisão das revistas…mas fabricadas…muitas delas nem tinham completado o liceu…
Então eram bons actores, bons apresentadores?
Eram...pois acreditavam na fantasia, naquilo que faziam…trabalhavam muito para isso…para sobreviverem ao tempo…dependiam daquilo que faziam como você depende de estar acordado esta noite…
Como é que sabe isto tudo? Deve ser mesmo um fantasma…
Já lhe disse no post anterior deste Blog que não. Quero mantê-lo distraído, atento, acordado e essa é a minha especialidade.
Então diga-me, se já morreu, quem era você?
Era aquele ali, o grande apresentador… a grande vedeta de variedades, da rádio e televisão a preto e branco.
Mas olhe se é verdade, você era bom…
Mantinha o público desperto…e este era mesmo público a sério…
E o que é aconteceu consigo? Foi despedido? Fez merda?
Tive um ataque cardíaco em directo…
Um ataque em directo?... com toda a gente a ver?
Sim…
E como se salvou?
Não me salvei…morri em directo…
Morreu?
Toda a gente correu para acudir-me…queriam fazer parte da cena… e quanto mais tempo aquilo durasse, melhor para a televisão… estive imenso tempo em emissão, deitado no chão, desmaiado.
Porra… eu sabia, você é mesmo um fantasma…só podia…!
Não sou…mas já morri… Fizeram-me um funeral bonito…fui enterrado no cemitério dos artistas e tudo…
Como assim? Se morreu você é o espirito de si mesmo...
A verdade é que acordei na sala mortuária, em carne e osso. Não sabia o que me tinha acontecido…entrei em pânico e fugi…sem saber como, nem por quanto tempo. Corri para longe de tudo. Devo ter andado quilómetros vestido com uma bata de hospital, até que, já a morrer de fome, entrei num café para pedir ajuda… e quando olhei para a televisão assisti ao meu funeral, também em directo…milhares de pessoas a chorarem…colegas que me odiavam a falarem bem de mim…a minha família…pessoas do governo…o presidente…sei lá, horas de televisão, páginas de jornais…até eu chorei.
E o que fez a seguir?
Nada…aprendi a viver morto…
E como é isso?
Nunca mais fechei os olhos…nunca mais dormi…com medo de morrer...vivo apenas em pé ou sentado. Portanto, estou sempre acordado e nunca mais me deitei…
Porra e não disse nada a ninguém?…não falou com as pessoas lá da televisão?…não falou com os jornais? Não voltou para a sua família?
O público acredita mais no que vê na televisão do que na realidade…e o que a minha morte causou, foi uma bela ilusão, um belo funeral e uma memória de mim em "grande"…
Mas alguém o tramou…os seus directores…os gajos do hospital…
Da mesma forma que te querem tramar…
Mas eu não tenho a importância que você tinha… Importância tenho hoje...sou o único que consegue ser assim...
Assim...?
Não adormeço…não me deito…como pouco...só sei estar em pé e sentado…
…sou o melhor dos figurantes…por isso estou em todos os programas…

Bom, são 5 horas da manhã vou fazer a última ronda, antes que o chefe apareça de surpresa. Obrigado por ter-me mantido acordado. Não sei se hei-de acreditar em si mas obrigado na mesma…Na minha próxima ronda nocturna venho visitá-lo outra vez. Está bem?
.......
...Está ouvir-me?
.......
…Onde é que você se meteu?
.......
… Porra…isto só acontece comigo… E agora?...ainda por cima a Teresa grávida outra vez…esta vida é uma foda.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Estúdio 3 parte III

De lanterna na mão…como um timoneiro em noite de nevoeiro…
o segurança tentava fixar a luz., mas ela não chegava lá…
espalhava-se e perdia-se no ar…
se fosse humano já se tinha assustado…portanto, deveria ser um adereço ou um boneco…
rodou e continuou a sua ronda.

Sabe, nasci virado para à luz, mas hoje vivo na escuridão.
Porra... que susto!... - uma viragem de 180 graus e a lanterna caiu…partiu-se
…apagou-se… – quem está aí?
agora só com as luzes de presença…
Sabe, a diferença…entre a luz e a escuridão?
Claro, não estou a vê-lo, porque está escuro.
Quem está habituado à luz não vê na escuridão…e quem vê no escuro, cega com a luz.
Aonde é que você está? Está na bancada, na fila do fundo?
Habituei-me á luz e á escuridão…
Você não pode estar aqui…não pode estar ninguém neste Estúdio, quando está fechado.
Sempre estive aqui…você e os seus colegas é que nunca me viram…
É um fantasma…não?
Já morri uma vez…mas não sou “o fantasma do Estúdio”
Então quem é?
Apenas um figurante.
Então tem que cá estar quando os programas estão a ser feitos e não á noite, quando estão parados.
Também há programas á noite…
Claro, mas não são neste Estúdio…
São sim… só que você não os vê…são às escuras.


quarta-feira, dezembro 05, 2007

Estúdio 3 parte II

Mas a ronda desta noite tinha uma vida…estava na ultima fila…na mais alta…
…foi a luz branca e suja da lanterna que encontrou a silhueta…
contornos de um corpo sentado…no vazio da bancada…
estático… estátua…de carne ou plástico?
um figurante ou um boneco?...não percebe a diferença…em cenários nenhuma…
…apenas um reflexo de olhos, um olhar fixo, a nada…


(continua)

domingo, dezembro 02, 2007

O Estúdio 3... parte I

A ronda nocturna pelo Estúdio 3
O que se vê, é só o que a lanterna mostra…
as sombras, são os fantasmas das luzes de presença…
a realidade, é cenário…e dorme…
dormem juntos…o programa de manhã, o talkshow da tarde…

no ar ainda há ecos de gritos, de aplausos, de apupos,
ecos de um dia inteiro de truques…de lágrimas fingidas…
de risos histéricos…de vidas inventadas…de minutos de fama ridícula… de próteses vedetas…de produtores de escravos…de directores de paus para todo o serviço…
de violações consentidas…de assassínios de personalidades...de estripadores de sentimentos…de ilusões…de luzes e brilhos…

mas na ronda nocturna a realidade não tem essas luzes acesas…
a realidade é escura…apagada…sem brilho…deprimente…
o sofá dos artistas ainda está transpirado…e o da grande vedeta, diz “não sentar”…
o chão está riscado…os tijolos já tem esferovite á mostra…mas quando há luz, parece tudo novo…

as bancadas, sempre as mesmas…sujas…cheias de garrafas de água vazias...
…amarrotadas pelos figurantes, os que aplaudem, riem, apupam, choram sempre que a luz acende…que se despem e vestem de programa para programa...vestem de cor viva e diferente…trocam as roupas uns com os outros, para não parecerem sempre os mesmos…calçam os sapatos emprestados, mesmo os mais apertados…tem direito a umas sandes por dia, embrulhadas em celofane...e são despedidos quando adormecem no ar…ou quando não dormem com um assistente qualquer…

Mas a ronda desta noite, no Estúdio 3, tinha uma coisa viva…estava na ultima fila…na mais alta…


(continua)