Num canto qualquer...

Os meus olhos já não brincam às escondidas…
…escondem-se para serem descobertos.

Os meus olhos já não jogam à cabra cega…
…tropeçam num recreio qualquer.

Os meus olhos já não saltam à corda…
…adormecem quando se levantam.

Os meus olhos já não são infantes…
…asilam em terra.

Os meus olhos já vêem pouco…
…pestanejam com heróis da Marvel.

…mesmo olhando-os de frente,
os meus olhos são diferentes...
dos olhos fechados, das histórias em papel.

A nossa ilha...

Todos temos uma ilha escondida dentro de nós…
Mas raramente conseguimos esconder-nos dentro dela…

São sempre ilhas… mesmo quando rodeadas de terra…
Com ruas sem o nome que nos viu nascer…
Com cantos em vez de sítios…
Com esquinas dobradas em largos inacabados
Com casas e prédios incompletos por habitar…

As ilhas que escondemos estão iguais a nós…
Cresceram fascinantes…luminosas…
Querem ser confortáveis…luxuosas…
Querem ser cidades…modernas…
Vaidosas…

…mas de facto são só ilhas…
Perdidas…incompletas…por falta de afecto…

…fartas de nos chamar a atenção…
Feridas…desiludidas…pelos nãos…

…e onde um simples pontão… é apenas o que resta…
…para uma nova partida… para uma nova chegada…
…mas nunca para um regresso.

Todas as ilhas que nos viram nascer, estão assim…
Irreconhecíveis…como nós.