Como é que posso gostar de ti, se nunca te vi Como é que posso olhar-te, se nunca por mim passaste Como é que posso compreender-te, se nunca te li Como posso entender-te, se nunca te ouvi Como é que posso insistir, se tu não existes Como é que posso amar-te, se sou eu a inventar-te.
De perda em perca…de perca em pedra… de pedra apodrecida…de perda esquecida… perdida… de pedra fria…empedrada…como todas as percas… …como todos sentimentos de perda… …como todos os sentimentos perdidos… …em perca…interna…sem terra… para os enterrar Sem sepultura…nem escultura…de pedra para marco… Sem sensatez nem sensibilidade só a impossibilidade de fraco… Só a fragilidade, a desistência, a impotência … de pedra fina…lascada…polida e disfarçada… como todas as percas…todas as perdas…não esquecidas… ...e nunca reveladas.
Há um jogo de cartas no meu computador que se chama FreeCell, como em todos os jogos, o nome é a estratégia, … o objectivo… no FreeCell, é jogar e jogar…arrumar e arrumar…ordenar e ordenar… cartas a cartas…segundo os naipes…segundo a ordem pré-estabelecida… onde as damas valem mais que os valetes…e os duques ficam por baixo, em último… onde os ases, os estrategas assessores, deitam-se por cima dos Reis… o objectivo é ganhar…e só se pode ganhar, se… se jogar-se… e é a jogar, e é a ordenar, e é a arrumar, e é com ar de guru que se joga ,que se finge yoga,deixando sempre uma FreeCell…à cautela…à escapatória…não vá o diabo tecê-las… a FreeCell, que nunca vamos precisar dela…nem para uma jogada mais difícil… a FreeCell que nunca nos há-de proteger…sobretudo na falta de saída… é Free a Cell bem guardada, por alguma coisa…a má surpresa…unida na doença…uma incapacidade momentânea…ou na morte…definitiva… …e até há quem tenha mais FreeCells…é muito importante…pode oferecer aos amigos… e quando o jogo acaba…quando o número de jogadas já ultrapassou o limite…nunca do razoável, nem do previsto…sempre pelo facto de se ter esgotado o tempo concedido… a FreeCell já não serve de nada…e todas as outras FreeCells estão congeladas…perderam toda a importância…desvalorizaram-se e já não dá para jogar mais… …Foda-se e agora… … como é que se pode jogar sem uma FreeCell?
Há um homem câmara, um cameraman… tem uma câmara de filmar no coração… não consegue filmar sem chorar…porque tudo para onde olha… ...tem um olhar que nada vê… …ou tudo que ele filma, só consegue ver com a objectiva que traz no coração?
Que desgosto ter gostado… quando por encanto perdi o gosto…. Que desgosto ter pensado em tomar como gasto…tudo o que gostava … …quando agora, por encanto não consigo saldar o gosto de todo o desgosto…que não foi cobrado… e pagar…o que soube a dado e afinal emprestado… e mais tarde cobrado sem ter sido facturado… Que desgosto pela dívida sem ter sido orçamentado, para este empreendimento de gosto mútuo, duvidoso… sem ter sido previsto em pacto, com impacto apenas depois do acontecimento… crise de acções sem gosto…gastas depois de valiosas...depois de não valerem a pena… Mas por mais que me desgoste, há um mercado para o gosto… que vale em função do que de nós gostam…e não o que por nós gastam... que valem pelos desgostos e pelos desgastes....
Que desgosto… só gostarmos de gastar no que dá desgosto... e só com quem achamos que gosta de nós…
