Quero um fim...

Quero um fim-de-semana
com feriados até ao fim da vida...
num hotel no fim do mundo…
onde o recepcionista que não me pergunte pela mala…
nem pelo nome…
com um único quarto disponível… só com uma janela…
virada para o paraíso…

Um quarto sem cama e sem fim… sem móveis
com um espelho atrás da porta…para não me deixar partir…
com paredes em aço em forma de abraço…
onde me seguro…sem ter tecto
sem ser descoberto…

Sem rima…sem quadros…
mas cheio de retratos…
mascarados…

à espera do fim…
…dos feriados.

Ainda há tempo....

Ainda há um tempo bom….
mesmo depois do tempo que já foi vivido…
mesmo depois de todo o passado…
ainda há tempo que faz falta…

há um tempo…
…um poço de ar…
um impulso na nossa circulação…
um momento que nos chama…
uma estrela que rasga o nosso céu…
um filho que nos chama pai…
um abraço para atravessar uma rua…
uma lágrima para chorar…


Ainda há um tempo…
que falta viver
mesmo com o nosso nome…
mesmo com tudo o que não esquecemos…
mesmo com o nosso ar...
mesmo com a nossa dúvida…

Ainda
há um gesto para fazer…sem nos mexermos…
um sorriso…sem dizer nada…
uma viajem à volta do mundo…
uma arvore para plantar…

Ainda há um tempo…
para acreditar que o melhor vem a seguir…
que vamos renascer…voltar à luta…
voltar a parir…


Voltar a soltar a gargalhada que acorda o mundo…
ainda há tempo…

Um lugar...

Gostava de acreditar…
que há um lugar…depois de agora…

lugar…com vaga…
para náufragos…

lugar para alugar…
só com sala de estar…
temporariamente minha.

Gostava de acreditar…
que há um mar… com ondas

numa praia alagada…
onde só há um lugar…para descansar…

vago…

Aqui estou eu...

Aqui estou eu a escrever…
sem saber o quê…
para quê…
para quem…

Aqui estou eu a ler o que escrevo…
sem saber porquê…
sem saber o quê…
sem saber ler…

Aqui estou a escrever para ti…
sem saber se lês…
sem saber o que lês…
nas palavras que escrevo…

Aqui estou eu à procura de ti…
à espera que tenhas lido o que escrevi…
para ver se sabes o quê…
o porquê…
de eu nunca perceber…
aquilo que escrevo...
para ti.