segunda-feira, julho 21, 2008

Temos palavras para perder...




Há palavras que nunca são ditas…
…nunca são escritas...
nunca não são impressas…
….resistem a serem traduzidas…
simbolizadas…
expressas…

Temos muitas palavras dessas, dentro de nós…
Nunca fomos capazes de as deitar cá para fora…
de as traduzir…de as escrever…
de as lançar para o ar…
de as perder…

Poderíamos ver-nos livre delas…quando nos perguntam o que estamos a pensar…
mas não conseguimos…
Poderíamos perdê-las…quando nos perguntam se não temos nada para lhes dizer…
mas não conseguimos…
Poderíamos escrevê-las…para alguém que estivesse muito longe…
ou até escondê-las… se encontrássemos a maneira de escrevê-las…

…e como isso nos sabe mal…
…tão mal,
que não conseguimos dizer.

sexta-feira, julho 11, 2008

corrector automático...



Todos nós temos um corrector…
…automático…
ás vezes fanático…
patético…
mas, eficaz…
traumatizante… mas reparador…
esclarecido…
e perturbador…
frio dicionário, do nosso comportamento…

Ele está dentro de nós…sem sabermos como lá foi parar…
já existia, ali… mesmo antes de nós existirmos aqui…
veio do passado, dos nosso antepassados…
passou para a mente de quem nos educou…
e hoje existe…nas nossas existências…
sem sabermos…porquê…
nas nossas referências…

Um corrector automático…
obcecado pela nossa sobrevivência…e demência…
curandeiro sem cura para a nossa doença…
censor da nossa vivência…
automático…
castrado…

…mas necessário…
…talvez farol…
do caminho para não seguir…

terça-feira, julho 01, 2008

...cedo demais...

Amanhã queria acordar à hora que me apetecesse…
mas sei que vou despertar muito antes…

foi sempre assim comigo…
sempre despertei demasiado cedo…antes da hora…
nunca consegui acordar quando me apetece…

se calhar foi por isso que cresci demasiado depressa…
deixei a infância antes da hora que me apetecia…
cheguei cedo demais às coisas tardias…
fui adolescente precoce…
amei antes dos outros…
cheguei às ideias antes das coisas acontecerem…

e hoje…sinto que estou a envelhecer antes de me apetecer…
estou a chegar cedo à tarde do meu ser…

e cedo…ao olhar cansado…que já não vejo…
já deixo de entender o que me rodeia…
já nem sei o que eu faço tão cedo…
não tão longe do começo…

já não sei o que já faço com os meus filhos…ainda antes de ser velho…
já não sei como está a minha compreensão… ainda antes da doença…
e já tenho demasiada intolerância… ainda antes da morte…


já sou amargo antes de apodrecer…
a natureza não me deu tempo…de amadurecer…
deu-me a estufa da vida…
não me deu o tempo de crescer…
deu-me um filme sem intervalo…
com um pacote de pipocas pequeno….

Afinal só mais uma vez cheguei cedo demais…
e sei que já é tarde para chegar tarde...