sexta-feira, dezembro 19, 2003

Muitas vezes, temos falta de...

Sermos reconhecidos sem sermos conhecidos...
Sermos “o” sem sermos únicos...
Sermos autênticos sem sermos raros...
Sermos dignos sem fazermos concessões...
Sermos convictos sem sermos os interessados...

Termos ideais e não só ideias
Termos coragem e não sermos só corajosos...
Termos vitórias e não sermos só jogadores...
Termos valores e não condições...


Muitas vezes temos falta de sermos sem termos... de ser...!
Para sermos achados precisamos de nos perder...
Para sermos encontrados é preciso escondermo-nos...
Para sentirmos falta precisamos de deixar de ter...


Será que para ganharmos serão preciso derrotas?





terça-feira, dezembro 16, 2003

Uma avenida com dois sentidos... repleta de transito...a uma grande velocidade....
Quatro faixas de cada lado... uma autêntica auto estrada...

Atravessá-la longe da passadeira... até meio...
Conseguir chegar àquele separador central...um separador mínimo... o que divide o sentido de lá com o sentido de cá...

E ficar ali...à espera...à espera de conseguir atravessar o resto...
À espera de uma oportunidade...para chegar ao outro lado...

Olhar para trás e perceber já não dá para voltar...
Olhar para a frente e perceber que o problema persiste...

A única solução é esperar...esperar em pé...
sem poder sentar...sem dever desesperar...
A única esperança é que um dia o transito pare...
...e, depois, conseguir passar para lá...sem olhar para trás.

Passar sem ser atropelado...


Quantas vezes isto já nos aconteceu?....







domingo, dezembro 14, 2003

Quando estamos nos bons momentos...estamos bem, só porque não nos lembramos dos maus momentos?
Quando estamos nos maus momentos...estamos mal, só porque não nos lembramos dos bons momentos?

Estamos bem porque não nos lembramos de estar mal?
Estamos mal porque não nos lembramos de estar bem?

Quando estamos bem, os maus são bons?
Quando estamos mal, nada é bom?

E onde é que está a verdade?

Os momentos bons são mesmo bons?
Os maus são verdadeiramente maus?

São eles ou nós?
São os momentos ou apenas a maneira como os vemos?

Provavelmente eles não serão mais que momentos... e nós é que estaremos bem ou mal...

Mas nós, por outro lado, não somos bons ou maus conforme os momentos?

Somos nós ou os momentos?
Se calhar somos tudo aquilo que os momentos querem...

Bons, quando os momentos forem bons...
Maus, quando os momentos forem maus...





quinta-feira, dezembro 11, 2003

Há um lado meu que quer ser poeta...quer, mas hoje não é.
Há um lado meu que quer ser prosador...quer, mas hoje não é.


Ambos querem... mas hoje não....
...é castigo aplicável a gente irrequieta.





quarta-feira, dezembro 10, 2003

... a olhar a mão.



Mão dá,
aprendeu a dar,

Mão recebe,
aprendeu a receber,

Mão nada, mão dada...aprendeu a dizer não
Mão toca e foge...brinca a sentir,
Mão fechada...aprendeu a bater,
Mão marcada...pelo futuro
Mão rude, roída pelo mal de trabalhar,

Pensa...e suspensa, mão aprendeu a ter pena,
Tem tiques... conhece-me...e desconhece-me
Escreve e descreve...mente e desmente
Mão demente.

é a minha defesa, esconde-me
segura-me o prazer...insegura,
Esta mão fala por mim, escreve os meus gestos
Cega...encadeia, mão ilusionista
Mas mão não e nunca sim...
mão de adeus,

Deixa, mão de fora... palavrão
Obscena... cena de cinema
À facada.

Mão murro, na mesa...
aponta.

Mão vicio,
...ar,

Mão dar...e,
Mão receber.....




... a olhar a mão.








terça-feira, dezembro 09, 2003

Frio,
Feio e frio,
Todo o frio é feio...é frieza...

Serve para congelar...parar.
Conservar...interromper.

Friamente, frigidamente...
Mente fria... frieira,
Feia.

Frio é triste...

Frio não fala...
Não diz nada, há uma data de tempo.
É bala...fria por fora...

Cinzenta por dentro,
Uma perca de tempo...

Frio fere...fura...
Dá cabo, destrói...

Fraco,
Calado e reservado,
Escondido dentro de um facto escuro,

Frio é frio...
É feio.

Não vale a pena desculpá-lo!



segunda-feira, dezembro 08, 2003

Será que os que governam sabem que são governados...?
Será que eles podem pensar sozinhos ou só o que outros pensam...?
Eles tem a ilusão do poder, mas será que eles podem, só pela sua vontade...?

Eles tem a luz, mas quem fornece a energia vive na sombra.
Eles tem a ilusão da maioria...mas a maioria das maiorias custa muito...
...e isso saí caro...aos que dão a cara...

Custa caro comprar guerras...custa caro comprar televisões...
Custa muito comprar votos...custa convencer devotos...
Qualquer poder é caro...para poder ter poder é preciso pagar.

Mas há sempre quem pague...quem acredite em acções...boas acções...
em dividendos...

Todos os que chegam a governar, tem que governar as suas dividas...
as dividas de gratidão, não gratuitas.

Acções a apagar...a pagar aos que estão no escuro...na sombra...
Aos homens fortes....
Aos homens dos presidentes...
Aos homens dos que governam...

E nós, será que somos governados por eles?
...e eles, será que nos governam?

De quem é esta ilusão...?
De quem é esta ilusão de civilização?

...

sábado, dezembro 06, 2003

Há aqui uma espera qualquer,
Uma espera de vez...à vez...
Talvez,
...um compasso de espera...
Sem muita esperança,

Há aqui qualquer coisa,
Uma coisa com protagonismo...como deve ser,
Um filme,
A PARAGEM...

O que é que está a acontecer?
Alguém me diz o que é que se passa aqui?

Será uma paragem natural?
Estamos parados ou a andar?

Não vejo ninguém a reflectir...os brilhos mais baços é que brilham...
os actores mais baixos é que se agigantam...para primeiro plano...

Fazem sinais...gesticulam muito, falam, sabem muito bem o texto...
Ninguém está a gravar, é só ensaio...

É melhor repetir...quanto mais se repetir melhor sai...
Quando for a sério, “muita merda”!


sexta-feira, dezembro 05, 2003

Devia haver um arquivo de vida...um registo de tudo o que fazemos...
de todos os segundos que nós vivemos.
Deveria conter todas as imagens que vemos... todos os sons que ouvimos...
e tudo o que nos passa pela cabeça...

Seria a nossa verdadeira história...só nossa...
Sem interpretações...sem as traições de memória...vista apenas pelos nossos olhos.
Só poderia ser consultada por nós...e só ficaria para os outros quando terminasse...
Seria a maior herança que poderíamos deixar...a mais verdadeira...o nosso eu..

Teríamos a nossa história para recorrer sempre que nos sentíssemos confusos... sempre que precisássemos de nos situar na nossa vida...
Poderíamos fazer um balanço do que já fizemos e do que ainda nos falta fazer...
Teríamos acesso às verdadeiras emoções...aos verdadeiros sentimentos...aos medos...aos traumas...às frustrações...às alegrias...
Daria para viajar até à nossa infância...teríamos acesso à nossa inocência...à nossa pureza.

E sempre que precisássemos, conseguiríamos descobrir, numa quantidade de coisas pequenas, coisas tão grandes...tão pequenas que as perdemos...tão importantes que nos fazem falta.

Deveríamos ter um registo de vida...da nossa vida,
...era bom para mantermos o interesse por nós.













quinta-feira, dezembro 04, 2003

Começamos a vida a querer ser alguém...
Queremos ser alguém, quando achamos que não somos ninguém..

Passamos a vida a lutar para não passarmos despercebidos...
Queremos ser reconhecidos...por alguém...
...de preferência por um não nosso conhecido.
Gostamos de ter a certeza que somos reconhecidos pelo nosso verdadeiro valor...e não por um favor...

Quando nos sentimos alguém é quando alguém nos reconhece...
passamos a ser conhecidos...ninguém nos esquece...

E então, começamos a desconfiar dos que nos tratam tão bem...
Será que eles, que nunca foram ninguém, tratam-nos assim para serem alguém?
...será que tratam-nos tão bem só para serem reconhecidos?...por alguém?...




Chegados a este ponto...chegámos a um porto...
era o porto que escolhemos chegar, quando partimos.

...era um porto desconhecido...quando era um ponto de chegada...
Mas mal aqui chegados, já é porto de partida....um ponto já deixado.

É um ponto de encontro entre um ponto de chegada e ponto partida...
Entre a nossa vontade de aqui chegar e a nossa vontade de daqui partir...
Porto de uma viagem interrompida...porto de tantos pontos de vida, dividida... por um destino incompleto...
Viagem por tantos pontos e por tantos lugares desconhecidos...
Com a sensação de não ter chegado a lugar nenhum.

São assim todos os portos da nossa vida...pontos de partida depois de lá termos chegado...pontos de chegada antes de termos partido.
São portos das nossas insatisfações permanentes...pontos onde vivem as nossas angústias... portos pouco seguros, onde nunca queremos ficar...depois de termos desejado tanto lá chegar.

São assim esses pontos da nossa vida... pontos que pontuam e nos iluminam...
fazem-nos viajar para destinos que não conhecemos... mas secretamente desejamos...
Portos que só conhecemos, quando lá ficamos...
Mas que esquecemos quando os abandonamos.

... não somos nós todos o resultado de um desejo?...
um ponto de partida qualquer...que não sabemos onde começou...
... mas vamos sabendo a que ponto chegou...

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Será que me ouves...mesmo quando finges com olhos fechados...
Está frio, tu deves ter frio... e escondes-te.
Não aqueces, esqueces... e então hibernas.
Hibernas ou foges?
Foges do frio...morres temporariamente, até ao calor...
O teu alimento flutua na água, por cima de ti...
mas tu finges que não o vês...

Desapareces por debaixo da tua carapaça...e não te mexes.
Não ages, não reages...
Não te alimentas...

Gostava de saber se respiras...se pensas...se sentes...se tens consciência...
Hibernar é assim?
Faz medo hibernar?...Sonha-se quando se hiberna?

Eu gostava de fugir ao frio...
Gostava de hibernar por debaixo de uma carapaça feita de coco...suja de areia...molhada e salgada de mar...
E não agir, nem reagir...
Ouvir, sem manifestar...ter opinião sem falar...
Pensar, sem alimentar...
Deixar-me ir...até acordar,
Hibernar...como tu...

Será que me ouves...?
Se me ouvires, diz-me como se faz...