Passamos uma vida à procura de estabilidade… mas a adrenalina da instabilidade…? Procuramos segurança… e os desafios…? Queremos paz… e o conflito…? Criamos raízes… e o partir…? Vamos… e o voltar…? A noção da realidade… e o sonho…? O doce…? e o acre…? O procurar… e o escondido…? O ter… e a rotina…? A importância… e o despercebido…? O óbvio… e a dúvida…? Tudo… e o nada…?
Porquê que andam tão tristes os nossos olhos? Será do nosso olhar? Será do olhar deles? Ou será apenas o reflexo do que eles vêem?
Se eles estão a ver o que eu vejo…tem razão de estarem tristes… porque o que eu vejo, mal se vê… sobretudo nos olhares com que me revejo…
Mas quando o espelho olha para mim…espelha apenas o olhar que eu trago, … tão, ou mais, triste que o olhar com que me vejo…
E vendo bem…não me reconheço…. por mais que olhe para mim, não consigo distinguir… se sou eu a ver-me…ou se sou eu, para os meus olhos verem…
E desconfio que passei este tempo todo a fazer-me ver bem… aos olhos de quem eu queria que me visse…com olhos de ver… e agora não consigo ver-me escondido…dos que me querem ver… a olhar para eles…para os meus olhos.
Hoje… lembrei-me de orçamentar a minha vida… juntei os custos…de um lado… subtraí-os aos proveitos…do outro e deu-me a margem…a margem de lucro…. e à margem… o valor da minha vida… ou seja… …aquilo que valho… em positivo…ou em negativo…
Fiz contas…muitas mesmo… e depois de contá-las…nunca cheguei ao mesmo valor… mesmo depois de descontá-las… nunca devolveram o meu investimento…
Será que valho muito…ou será que valho pouco…
Confesso… há coisas que pus a valer demais… os grandes gestos que eu fiz…os nobres sentimentos que eu produzi… o que eu signifiquei para os outros…aos olhos dos meus olhos e sobretudo…tudo o que não desiludi…de mim…
Depois as outras…as para pôr nos custos… aquelas que não dei valor nenhum…mas custaram muito… quando, diziam que não era assim…e não era… quando custava dizer que sim…sabendo de antemão…que não… quando diziam que eu estava diferente…e eu nem lá estava… e depois de esperarem tudo de mim...menos, que eu fosse assim… o que custou…conseguir ser apenas eu…se alguma vez o fui…
e também contabilizei os sacrifícios… os que fiz por mim…e os que achei ter feito pelos outros… o tempo que lhes dediquei…e que tem de ser debitado…
Calculei por alto tudo aquilo que eu não sei… em imponderáveis…em estimativa… o que devo ter custado ao nascer… e o que vou custar quando acabar…
No fim… …feitas as contas… onde está o lucro? a margem? o retorno? a mais valia? o valor acrescentado?
Variam em conformidade com o instante… …sou um capital de alto risco… !
só é perdoável…o pedido de perdão… só é culpável…a culpa…. e a desculpa só existe obrigada… …
ensinaram-nos cedo, a pedir desculpa…mesmo sem culpa… obrigaram-nos cedo, a pedir por favor…a coisas não obrigadas… e favor ,é tudo o que fazemos sem obrigação….
pediram-nos tantas vezes para pedirmos desculpa… mesmo sem saber da culpa… nem do culpado…
depois, quando já fartos de culpados… pediram-nos para perdoar… para desculpar… para esquecer…
È Carnaval… mesmo aqui ao meu ao lado, está uma princesa presa … ao sono de um sonho…que não se realizou…. com a sua fantasia deitada pelo chão… para ser rainha…por um dia… depois de ser princesa, nos outros
de certeza… princesa para mim… que estou aqui ao lado…sentado… privilegiado… sem ser o encantado… pois se fosse, faria uma magia…que a levasse ao baile, que faltou…
como eu gostaria de ser inventor… criar um Carnaval só para ela… mostra-la linda… a ele, o mais nobre… na sua corte real… onde a fantasia fosse normal mesmo só por um dia…
mas não sou… e o Carnaval foi mais um dia normal… onde não se festejou…a fantasia… onde nem se disfarçou… a nossa própria vida… sem desejo nem calor…