terça-feira, dezembro 02, 2008

Tinteiro...



O tinteiro da minha impressora que mais tinta me pede, é o do preto…
O preto é a tinta que mais se gasta nas minhas impressões…
Todas as outras cores vão se gastando… a cor preta gasta-se por si própria…
Não há impressão sem preto…
Nem branco….
Mas branco não precisa de tinta…nem tinteiro…
o princípio é branco… a superfície é branca…é mulher
e à superfície, é que se dá a primeira impressão…
a que vale…a que causa…a que fica…
e o preto é macho…é mancha…
tem que marcar…delimitar…e assinar…
o meu tinteiro sabe disso…e está sempre a pedir mais tinta…
mais traço…mais regra…mais limite…
mas o meu traço é grosso...esboçado e tracejado pela quantidade de impressões que eu ainda faço…
à mão…
sem a pressão…
da minha impressora…

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Não,não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concrecta
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer como...
Isso mesmo como...
Como quê?...
Se soubesse não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai,cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola de outro, e a voz dela!)
Porque oiço, e vejo.
Confesso: é cansaço...

Álvaro de Campos (0bras completas de Fernando Pessoa)

5 de dezembro de 2008 às 20:30  

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